Família de bebê agredida ao ser confundida com bebê reborn vai à Justiça
Três dias após o ataque em BH, advogado da família revela que prepara ação por danos psicológicos
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Siga noO advogado da família da bebê de quatro meses de idade, agredida por um ajudante de entregas, anunciou que vai entrar na Justiça para cobrar a reparação por danos psicológicos causados à criança e aos familiares. O caso ocorreu na quinta-feira (05/6), no bairro Savassi, em Belo Horizonte (MG). O agressor, Filipe Martins Cruz, de 36 anos, alega que confundiu a criança com um bebê reborn.
O caso aconteceu quando a família fazia um lanche em um food truck na capital mineira. Filipe Cruz aproximou-se do grupo - a mãe com a bebê no colo, o pai e o outro filho do casal, de 2 anos e 10 meses. Segundo relato do dono do food truck, Filipe chegou a brincar com a criança antes de, sem motivo aparente, dar um tapa com a mão aberta na cabeça da bebê.
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Populares dominaram o homem até a chegada da Polícia Militar. A bebê foi levada ao Hospital João XXIII, onde ficou em observação até o dia seguinte. De acordo com a equipe médica, ela teve um inchaço atrás da orelha esquerda e apresentava sinais de dor e irritabilidade, típicos de traumas em regiões sensíveis como a cabeça e a coluna cervical de recém-nascidos.
Filipe foi preso em flagrante, e libertado a noite ada, após audiência de custódia. A Justiça concedeu liberdade provisória mediante pagamento de fiança equivalente a três salários mínimos. Na decisão, a juíza também determinou que o ajudante de entregas se apresente periodicamente à equipe da Central de Acompanhamento de Alternativas Penais (Ceapa), mantenha endereço atualizado e compareça a todos os atos do inquérito e da futura ação penal. A decisão revoltou a família.
Segundo o advogado Marcus Vinicius Cardoso, a mãe da criança o procurou e pediu que falasse sobre o caso. Ela "exige que o agressor seja exemplarmente punido com o rigor da lei", declarou o advogado da família. Ele também confirmou que já acompanha as investigações policiais e está elaborando uma ação civil.
Segundo Marcus, toda a família está profundamente abalada. “O pai e a mãe não conseguiram dormir desde a agressão. O irmão, de menos de 3 anos, presenciou tudo e também está emocionalmente afetado. Trata-se de uma situação de abalo psicológico grave e coletivo”, afirmou.
A decisão da Justiça revoltou a família, que desde então vive em "estado de choque", diz o advogado. “O pai e a mãe não conseguiram dormir desde a agressão. O irmãozinho, que presenciou tudo, também está muito abalado. Foi um momento de lazer transformado em trauma coletivo”, relatou o advogado da família, que está acompanhando o inquérito policial.
Segundo ele, além da responsabilização criminal, a família vai ingressar com uma ação civil e pedir judicialmente acompanhamento psicológico para a bebê, os pais e o irmão. “Vamos requerer não só a reparação dos danos, mas também medidas de proteção e apoio psicológico, pois essa família foi atingida de forma profunda e duradoura. A mãe da criança me procurou e pediu que eu tornasse isso público, porque deseja justiça, mas quer preservar a privacidade dos filhos”, afirmou.
O advogado informou ainda que a bebê segue em observação médica e já tem consulta agendada para avaliação. Conforme Marcus Vinicius Cardoso, a bebê que é muito tranquila agora sente dor, está arredia e precisa de acompanhamento contínuo.
O agressor itiu à polícia que agiu de forma consciente e disse ter se irritado com a mãe da criança, que supostamente teria pedido prioridade na fila. Ele afirmou ainda ter consumido bebida alcoólica, embora os militares tenham constatado sinais de sobriedade. Encaminhado à UPA Centro-Sul com escoriações leves, o homem foi liberado após prestar depoimento.
O episódio gerou indignação popular. De acordo com o dono do food truck onde tudo aconteceu, cerca de 10 pessoas estavam no local no momento da agressão. "O suspeito parecia estar alcoolizado, mas estava calmo. Jamais imaginaria que pudesse fazer algo assim", disse o comerciante, que pediu socorro ao perceber a confusão.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil. A família aguarda que a apuração seja feita com celeridade e rigor. “A violência contra uma criança indefesa não pode ser relativizada”, finalizou o advogado.
O que são os bebês “reborn”?
Os bebês reborn são bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos em aparência e detalhes. Feitos artesanalmente, esses bonecos são usados como objetos de coleção, ferramentas terapêuticas ou artísticas, e até como hobby. Com a crescente popularidade nas redes sociais, surgiram quartos inteiramente decorados para eles, com berços, cômodas, enxovais personalizados, mamadeiras e poltronas de amamentação como se fossem, de fato, bebês reais.
Muitas vezes, esses espaços são decorados com tons suaves, papel de parede temático, iluminação especial e detalhes feitos à mão, criando um ambiente acolhedor e emocionalmente significativo para os colecionadores.
Polêmicas nas redes sociais
Nas últimas semanas, o universo dos “bebês reborn” têm sido alvo de polêmica nas redes sociais. Mulheres que tratam os bonecos com cuidado similar ao destinado a filhos biológicos aram a ser criticadas e ridicularizadas online. Comentários de escárnio e julgamentos motivaram até projetos de lei e manifestações públicas.
O perfil oficial da Prefeitura de Curitiba, por exemplo, publicou nas redes uma imagem com um alerta: “Mães de bebê reborn não têm direito ao banco preferencial”, referindo-se aos assentos prioritários em transportes públicos. A publicação viralizou, dividindo opiniões.
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Artistas e colecionadoras, por outro lado, denunciam que o preconceito vem do machismo e da desinformação. Segundo elas, a polêmica ignora os usos legítimos e terapêuticos desses bonecos e marginaliza quem os utiliza de forma consciente e respeitosa.