Conheça cachaça mineira orgânica premiada em concurso internacional
Original de Felixlândia, cachaça Flor das Gerais já recebeu diversos prêmios e vai lançar aguardente envelhecida em barril de vinho do Porto
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A história da cachaça Flor das Gerais é antiga e ou de geração em geração. O precursor da produção na família foi Juvenil Teixeira. Desde o início do século 20, ele fabricava a aguardente na Fazenda Mourões, no município de Felixlândia, onde a família atua até hoje.
Em 1912, Juvenil mandou fazer o primeiro engenho, onde a cana-de-açúcar é moída, da propriedade. Por isso, inclusive, que os familiares utilizam esta data para simbolizar o início da produção. “Provavelmente a produção começou até antes, mas usamos essa evidência”, ressalta Daniel Duarte, bisneto de Juvenil e responsável técnico da cachaça. Naquele período, ainda não era possível comercializar a bebida para distâncias maiores, mas na região em torno da fazenda, ela já era utilizada como moeda.
A fabricação da aguardente ou para José Teixeira, avô de Daniel e filho de Juvenil. Com ele, a produção diminuiu um pouco. “Meu avô tinha medo dos filhos virarem alcoólatras”, diz Daniel. Com a construção da Via 040, ele aproveitou a oportunidade para produzir carvão.
Apesar dessa mudança de rumo de José, cinco de seus 11 filhos decidiram continuar investindo na cachaça. “O que era um alambique gerou cinco alambiques“, destaca Daniel.
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Adão de Oliveira, pai de Daniel e filho de José, é o responsável pela cachaça Flor das Gerais. Ele que, além de contar com a veia produtora do avô paterno (Juvenil), herdou o sangue produtor de seu avô materno, que tinha fabricação da aguardente em Pompéu (MG). Hoje, aos 77 anos, ele ainda comanda a produção.
Além de Daniel, que atua como responsável técnico e está sempre com o pai, Maria Lúcia, esposa de Adão, e suas filhas Danielle e Grazielle, estão sempre envolvidas em processos de fabricação das cachaças. Maria Lúcia foi, inclusive, quem ajudou Adão no processo de "batismo" da marca e, posteriormente, no desenvolvimento do rótulo, já que é artista plástica.
Cachaças orgânicas
Em 2006, a família começou a transição do método tradicional de fabricação da cachaça para o orgânico, sem qualquer uso de agrotóxicos. Isso partiu inicialmente de uma preocupação de Daniel, que já havia se formado como engenheiro agrônomo e era receoso quanto à saúde dos seus familiares e colaboradores que estavam envolvidos na produção. “Tinha receio de acidentes e do efeito cumulativo do uso de agrotóxicos, naquela época não tinha muito controle em relação a isso e nem aos equipamentos de segurança necessários”, explica o responsável técnico.
Três anos depois, em 2009, eles receberam a certificação de produto orgânico pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Tal classificação é feita por auditoria, o que significa que a cada ano eles precisam ar por novas visitas e auditorias para que a certificação seja renovada.
Premiação internacional
No fim de maio, a cachaça Flor das Gerais Dorna Única foi premiada com a medalha de ouro no Concours International des Produits Biologiques, realizado em Lyon, na França. A premiação avaliou produtos orgânicos de todo o mundo e em diferentes categorias, como a de vinhos e a de destilados, que resultou no reconhecimento dos mineiros.
Essa, entretanto, não foi a única vez que os holofotes internacionais incidiram sobre produtos da cachaçaria de Felixlândia. Na Expo Cachaça de 2020, por exemplo, a cachaça prata, envelhecida em dornas de Jequitibá-Rosa também levou ouro.
A cachaça Flor das Gerais Dorna Única é produzida em barris de madeira amburana cearensis. “Fizemos análise de DNA e de fibra para diferenciar a madeira e terem certeza que era essa subespécie da região da mata atlântica”, explica Daniel.
A Amburana cearensis é uma madeira que permite um longo processo de envelhecimento, que nesse caso foi de quatro anos em barril. Além disso, ela ofereceu à aguardente notas de canela, e especiarias, com uma acidez leve.
Quem quiser experimentar essa bebida premiada, precisa ser rápido. Segundo Daniel, as garrafas são limitadas e já estão acabando e, além disso, a nova safra só sairá do barril no fim do ano que vem. A cachaça está sendo vendida no site da marca por R$ 1200.
Lançamento inusitado
No dia 17/6, será lançada a cachaça Flor das Gerais Reserva Porto Douro (R$ 300). A bebida é envelhecida por 10 anos, sendo sete deles em barris de carvalho e outros três em barris importados da Região do Douro, em Portugal, que eram usados na produção de vinhos do Porto.
Daniel explica que quando teve a oportunidade de comprar esses barris, fabricados por uma renomada tanoaria sa, teve a ideia de raspar a parte interna deles para produzir as cachaças. Depois que chegaram entretanto, ele foi surpreendido pelo cheiro deles e optou por testar a finalização do envelhecimento de cachaças nesse espaço antes ocupado pelo vinho fortificado português.
“Essa cachaça está fácil de beber, muito diferente e com notas interessantes”, ressalta Daniel, destacando o tanino (sensação de banana verde) na entrada e um retrogosto umami (sabor responsável pelo aumento da salivação e “gostinho de quero mais”). Notas mais adocicadas de baunilha e damasco também são observadas, e são tradicionais do envelhecimento no carvalho.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.
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