'Criaturas da mente' revela pesquisas de Sidarta Ribeiro sobre os sonhos
Em cartaz em BH, documentário de Marcelo Gomes acompanha a jornada ao inconsciente humano empreendida pelo neurocientista brasileiro
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Siga noNão fosse a pandemia, o documentário “Criaturas da mente”, recém-estreado no UNA Cine Belas Artes, não existiria. Acontecimentos decorrentes da crise sanitária levaram o diretor pernambucano Marcelo Gomes a registrar a jornada do neurocientista Sidarta Ribeiro na compreensão dos sonhos e do inconsciente.
Em 2020, com três dias de filmagem do longa “Retrato de um certo Oriente”, Gomes interrompeu a produção em Belém por causa da COVID. De volta para casa, e fechado (como todos) em seu próprio mundo, o realizador, em dado momento, parou de sonhar. “O sonho sempre foi muito presente para mim. Sonho coisas que coloco em meus filmes, já sonhei com meus personagens.”
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Com as “portas do inconsciente” fechadas diante da impossibilidade de sonhar, Gomes e Letícia Simões, que divide com ele argumento e roteiro de “Criaturas da mente”, aram a assistir às lives de Sidarta. Veio a ideia do filme e, quando houve a primeira abertura, ele começou a rodar.
“A gente estava muito contaminado por questões da época. O Sidarta, a ciência, foram muito perseguidos pelo governo Bolsonaro, assim como nós do cinema. Com o fim do período (pandêmico), abandonamos completamente essa questão e decidimos mergulhar mais no sonho, no inconsciente e na experiência com a psicodelia”, continua Gomes.
O documentário foi filmado em dois momentos, o que fica claro diante a mudança física do próprio Sidarta (o corte dos cabelos, a presença do bigode). Houve uma interrupção, pois Gomes retomou “Relatos de um certo Oriente”.
Mãe de santo, Krenak e Jung
O filme começa acompanhando Sidarta no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, instituição cofundada por ele. Assistimos a pesquisas realizadas no local, com ênfase no estudo sobre o sonho dos polvos. Há conversas do neurocientista com o analista junguiano Waldemar Magaldi, Mãe Beth de Oxum e Ailton Krenak, entre outras personalidades.
“Achei fundamental trazer os povos originários e as religiões de matriz africana para colocá-los no mesmo nível da discussão científica. A ideia era construir um plantel de vozes, cada um dentro do seu conhecimento. Mãe Beth fala que tem gente dentro da gente; Krenak, do poder do sonho; e o analista junguiano, do sonho orientador”, completa o diretor.
Tanto Sidarta quanto Gomes se colocaram à prova, participando de experiências psicodélicas. O diretor fez parte de um ritual de ayahuasca. “Foi uma experiência muito consciente, tive orientação psicológica antes. Finalmente entendi a conexão total com a natureza de que os indígenas falam tanto”, comenta Gomes.
Não é proibido filmar o ritual, mas Gomes fez seu relato para a câmera falando sobre o que ou.
Sidarta traça a relação do onírico com alguns filmes de Marcelo Gomes – como os primeiros curta e longa, “Maracatu, maracatus” (1995) e “Cinema, aspirinas e urubus” (2005), respectivamente.
“Foi quando entendi que esse tema já estava no meu cinema desde o início. Daí consegui construir uma ponte entre cinema e ciência.” Depois desse processo, Gomes voltou a sonhar. “Hoje, presto mais atenção aos sonhos, escrevo sobre eles”, conclui.
“CRIATURAS DA MENTE”
(Brasil/2024, 85min., de Marcelo Gomes). O filme está em cartaz às 17h30 na sala 3 do UNA Cine Belas Artes.