Cao Guimarães tem retrospectiva e pré-estreia em BH
Três filmes do diretor serão apresentados no Cine Humberto Mauro, a partir deste domingo (9/3). Na segunda, haverá sessão do inédito "Amizade", no Minas Tênis
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Siga noAmigos, Cao Guimarães sempre teve muitos – e a maioria deles, por anos a perder de vista. Alguns, pois todos não caberiam, estão em “Amizade”, novo longa-metragem do cineasta e artista plástico.
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Com chegada nesta quinta (13/3) aos cinemas, a produção ganha uma série de pré-estreias comentadas pelo diretor. A primeira delas será nesta segunda (10/3), no Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Antes, neste domingo (9/3), no Cine Humberto Mauro, Cao conversa com o público depois das exibições de “Santino” (2022) e “Andarilho” (2006). Estas sessões, gratuitas, integram o programa “3 X Cao”, que ainda exibe, amanhã, “O homem das multidões” (2013). As exibições apresentam um panorama não só do artista, que completou 60 anos em janeiro, como de sua obra.
“Sempre gostei muito de alteridade. Meus filmes costumam ser sobre pessoas bastante diferentes do que sou: um andarilho, um ermitão, isto reflete minha curiosidade pelos outros. Neste novo filme, feito com arquivo pessoal, esse outro sou eu mesmo. Ao olhar imagens de 30 anos atrás, parece que não é você, pois tanto sons quanto imagens vão envelhecendo e ganhando autonomia, outra camada”, afirma.
O ponto de partida de “Amizade” foi 10 de agosto de 2016, quando Cao se mudou da Belo Horizonte natal para o Uruguai, mais precisamente o balneário de Marindia, nas proximidades de Montevidéu. Na época casado com a uruguaia Florencia, mãe de seus dois filhos, Otto, de 13 anos, e Emma, de 10, decidiu se mudar em decorrência do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O trajeto de 2,5 mil km foi feito de carro, na companhia de Beto Magalhães, amigo e produtor de todos os seus filmes, como o próprio “Amizade” mostra. Na bagagem estava um disco rígido com as imagens que compõem o novo filme. “Levei meus amigos dentro de um HD”, brinca Cao, que levou cinco anos para finalizar o longa.
Ele comenta que “Amizade” tem uma primeira parte mais solar e a segunda mais pesada. É na parte inicial, inclusive, que estão as imagens mais antigas, como explica. “Meu pai tinha uma fazendinha (em Carmo do Cajuru, região de Divinópolis) onde a gente sempre ava o réveillon. Eram muitos amigos artistas, doidões e criativos, e a gente ficava inventando moda na fazenda. Há imagens incríveis de experiências artísticas de uma geração de BH, da década de 1990.”
Processo de criação
São eles o já citado Beto Magalhães, como também os artistas Rivane Neuenschwander, Isaura Penna, Zé Bento, Cristiano Rennó. “Não tenho imagens de todos os amigos, então o filme cria uma narrativa própria. Recortei um pouco para mostrar as pessoas com quem trabalhei, mostrando um processo de amizade e criação.”
Outras presenças são dos músicos Marcos Moreira e Nelson Soares, que formam O Grivo, responsável pela trilha de “Amizade” e de outros tantos projetos de Cao, e do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, com quem ele dirigiu “O homem das multidões” (2013).
Cao fez a narração do filme. São vários es, os mais antigos em fotografia analógica, Super-8, fita cassete. “Não é uma mera colagem de retratos e imagens. Então, na maior parte da narração, tento refletir sobre a amizade, fazendo uma reflexão sobre as memórias.”
Como trata também da agem do tempo, “Amizade” ainda mostra as mudanças de e. “Como teve a questão da COVID, o filme apresenta os formatos de captura de imagem. Traz o Zoom, as imagens digitais, fazendo com que o espectador sinta a plasticidade se movendo no tempo. É muito diferente, por exemplo, de você escutar um áudio de uma secretária eletrônica e outro do Whatsapp. Tanto que a segunda parte do filme mostra encontros de Zoom, quando a gente (ele e os amigos) conversava sobre morte e doença.”
Como estava falando de si próprio e daqueles que lhe são próximos, Cao afirma que teve dificuldade pela ausência de distanciamento do tema do filme. “Na hora de montar, tive que entender se aquilo teria um interesse universal para além de meus amigos e de mim mesmo.”
Até chegar ao circuito comercial, “Amizade” participou de festivais e mostras no Brasil e no exterior. “Aqui já tive sessões muito emocionantes (como no Forum.doc, em novembro de 2024), as pessoas sempre choram. Mas já tive sessões do filme fora, em Amsterdã, no Uruguai, com públicos que não conhecem (ninguém do filme) e se emocionam da mesma forma. É o retrato de uma geração”, comenta Cao.
“AMIZADE”
(Brasil, 2024, 85min.). Direção: Cao Guimarães. Pré-estreia nesta segunda (10/3), às 19h, nas duas salas do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Após a sessão, comentários com o diretor.
“3 X CAO”
Mostra no Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Neste domingo (9/3), serão exibidos “Santino” (2022), às 18h, e “Andarilho” (2006), às 20h. Após as sessões, debate com Cao Guimarães. Na segunda (10/3), será exibido “O homem das multidões” (2013), às 16h. Entrada franca. Ingressos devem ser retirados meia hora antes de cada sessão.