
Marina Silva merece respeito
Contrapondo-se a toda a lisonja para com a tigresa, tivemos um show de violência política de gênero contra a ministra
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A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, sofreu violência política de gênero no Senado na última semana. Para aqueles senadores, Marina é a personificação do lugar de exclusão. Para eles, uma mulher preta, de origem humilde, que não se encaixa em um padrão de beleza e objetificação, jamais poderia ocupar o lugar de ministra. Quando um homem diz a uma mulher: "Ponha-se no seu lugar", o que ele quer é que ela se cale e volte para o lugar de onde ela nunca deveria ter saído, aquele lugar onde ela não era vista nem ouvida.
Marcos Rogério tratou Marina Silva como ele provavelmente deve estar habituado a tratar todas as mulheres que não estão em casa ocupadas exclusivamente com tarefas domésticas e filhos. Esse tipo de homem pensa que as mulheres estão ocupando lugares que deveriam pertencer exclusivamente aos homens (brancos, claro). “Ponha-se no seu lugar”, ele disse. Homens como ele acham que o lugar onde as mulheres devem estar é em casa, sem dar palpite em política, sem ocupar ministérios, sem atrapalhar seus planos.
Já dizia Simone de Beauvoir: “O machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semideus diante de uma mulher”. Quando uma mulher é interrompida por um homem e não consegue concluir seu raciocínio e terminar sua fala, ela está sofrendo uma violência que tem nome: Manterrupting.
Ao interromper a ministra, inclusive desligando seu microfone, foi isso que o senador fez. O senador Marcos Rogério mandou Marina "se pôr no seu lugar". Era o que estava fazendo, se colocando no lugar de ministra. Seu lugar de ministra do Meio Ambiente, exercendo seu papel de proteger nossas florestas. Plínio Valério disse que respeitava a mulher, mas não respeitava a ministra, como se fosse possível separar as duas coisas. Meses antes, este mesmo senador havia dito: “Imagina vocês o que é ficar com a Marina seis horas e 10 minutos sem ter vontade de enforcá-la?”.
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O retrato perfeito do Brasil de hoje foi o que pudemos ver no congresso neste mês de maio: de um lado Marina Silva sendo destratada no Senado, de outro lado, na Câmara dos Deputados, a “influencer do tigrinho" sendo tratada como celebridade, como se fosse um modelo de cidadã. Bajulada por deputados, tietes que até selfie com ela fizeram. A mulher que divulga jogos de azar, ruína de milhares de brasileiros, paparicada numa total falta de respeito com a população.
Contrapondo-se a toda a lisonja para com a tigresa, tivemos um show de violência política de gênero contra a ministra. Marina foi interrompida, teve seu microfone desligado, foi desrespeitada, silenciada, agredida verbalmente.
Ao sair da toca dos leões (ou seria do tigrinho?), a ministra disse: “O que não pode é alguém achar que porque você é mulher, porque você é preta, porque você vem de uma trajetória de vida humilde, que você vai dizer quem eu sou e ainda dizer que eu devo ficar no meu lugar. O meu lugar é onde todas as mulheres devem estar”.
Independentemente de posicionamento político, é necessário respeitar a trajetória de Marina Silva, uma mulher que tem reconhecimento internacional pelo seu trabalho em favor do desenvolvimento sustentável e da preservação da natureza. Uma mulher que nasceu na pobreza, com muitas privações, que só foi alfabetizada aos 16 anos e que estudou, que se formou na universidade, que valoriza os estudos. Uma referência mundial em meio ambiente, direitos humanos e combate à pobreza. Em 2023, ela foi eleita pela revista científica Nature como uma das 10 pessoas que mais contribuíram para “moldar a ciência”. Ela foi escolhida por estar à frente de trabalhos de combate ao desmatamento da Amazônia.
Marina Silva é muito maior do que os homens que a atacaram, senadores que deveriam debater ideais, mas que usaram o espaço para expor o que são, homens misóginos. Foi deplorável assistir a tudo aquilo, tantas camadas de violência que nós, mulheres, sabemos bem o que é.
Marina não está sozinha. Segundo estudo da empresa Ativaweb, de monitoramento digital, feito para o Canal MyNews, a análise de sentimento com base nos posts de maior alcance revelou 82% de apoio à ministra, 10% com tom neutro ou informativo e apenas 8% com críticas, concentradas em perfis ideologicamente adversários. Marina Silva merece respeito.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.